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Inflação é Política

  • Daniel Kosinski
  • 7 de set. de 2017
  • 3 min de leitura


Descontando-se os preços administrados - aqueles, "regulados" pelos próprios governos -, o Brasil vive, hoje, considerável deflação. Sim, deflação. A deflação do desemprego, do colapso do consumo, do investimento e da arrecadação tributária, da miséria de dezenas de milhões.

Se entendermos a inflação como a elevação do nível geral de preços, ou a queda no poder de comando da moeda - o que, na vida cotidiana, dá no mesmo -, obviamente não defenderemos uma inflação elevada.


Não obstante, Max Weber há muito tempo já nos revelou que, sociologicamente, a inflação é um produto dos conflitos distributivos numa sociedade, um resultado das disputas entre distintos grupos sociais pela apropriação do produto do trabalho social, pela faculdade de dispor dos recursos materiais produzidos pelo conjunto da sociedade. Em outras palavras, e de forma deliberadamente simplificada: inflação é um resultado monetário, expresso em numerário, da correlação de forças entre aqueles que detém o poder de estabelecer preços - os empresários, e em menor medida, os governos -, aqueles que administram e determinam o valor da moeda - os governos, e em medida cada vez maior, os empresários - e os trabalhadores, que em circunstâncias normais são meros tomadores de preços, do valor da moeda e dos salários.

Ou seja, a inflação NÃO É UM FENÔMENO POLITICAMENTE NEUTRO - coisa que não existe -, muito pelo contrário. Toda inflação expressa relações de dominação numa sociedade e gera vencedores e derrotados.

Manipulando a inflação, governos logram transferir recursos de alguns grupos sociais para outros. Daí se falar, por exemplo, em "imposto inflacionário", muito em voga no Brasil dos anos 1980 e 1990. Reajustando preços sistematicamente, empresários organizados expandem a parcela do produto social da qual se apropriam. E, de maneira análoga, obtendo reajustes salariais acima do crescimento da produtividade - uma situação incomum -, sindicatos conseguiriam o mesmo.

Assim, se podemos concordar que a inflação elevada tende a favorecer os ricos em detrimento dos pobres, pois aqueles dispõem de meios muito mais eficazes de se proteger (ou mesmo, se beneficiar dela) do que os últimos (que não possuem meio algum), isso não implica no seu oposto, isto é, que a inflação baixa, por si só, preserve ou favoreça os interesses dos mais pobres.


Esta farsa é propagada por muitos.


Obviamente isto não acontece, e não pode acontecer, se a condição para a inflação baixa for a depressão, conforme hoje estamos assistindo no Brasil.

A absoluta obsessão que a inflação baixa ocupa hoje, em todo o mundo, no imaginário dos economistas, da mídia e da opinião pública formada por esta, deve-se a um fato crucial e, como em geral ocorre com os fatos cruciais na vida em sociedade, um fato ocultado: o de que a estabilidade da moeda beneficia os credores em relação aos devedores.

Logo, a obsessão pela baixa inflação a qualquer custo, que entre outros fatores nos está conduzindo ao desastre social e político, não possui qualquer referência teórica absoluta que a fundamente, mesmo porque, ao contrário do que muitos pensam, isso não existe na economia política. Ela representa, isto sim, a vitória política dos interesses rentistas, do chamado "mercado" financeiro, sobre o conjunto da sociedade brasileira, pesadamente endividada e tributada.

Daniel Kosinski

Cientista Político

*imagem retirada do site resumoescolar.com.br

 
 
 

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